Francisco Albano Boscatto

"Há duas coisas infinitas: o Universo e a tolice dos homens."

Meu Diário
17/02/2008 16h53
MEMÓRIAS DE UM NETO DE IMIGRANTES ITALIANOS...
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            A vida dos imigrantes nos primeiros tempos, após a chegada, não foi nada agradável. Eles tinham que trabalhar muito e não possuíam respaldo nenhum, do governo, para tirarem o sustento da terra. Viviam em choças improvisadas, sem recursos médicos, tendo que ir a pé até o Campo dos Bugres, onde havia um pequeno comércio improvisado. Iam adquirir o que lhes era mais premente, ou também carregavam cereais para serem moídos, trazendo de volta, às costas, a farinha resultante da moagem.

 

            Meu avô materno contava que, para ele e sua família, os primeiros tempos foram muito duros. Isto até as primeiras colheitas e a construção da primeira cabana. Entretanto, para avô paterno, que era alfaiate, os primeiros tempos foram mais amenos, pois ele contratava o trabalho dos vizinhos, em troca de confecção de roupas, que eram costuradas a mão, porque não possuía máquina de costura. No inverno, comiam muito pinhão – fruto da araucária (pinheiro) -, que denominavam “castagne brasiliane” (castanhas brasileiras), assadas em brasas ou cozidas na água.

           

            Nos primeiros tempos, os imigrantes plantavam muito milho e trigo; posteriormente partiram para o cultivo da parreira e a fabricação de vinhos. Para a produção do vinho, a uva era esmagada com os pés, numa esmagadeira superposta a uma tina, ou em outro recipiente similar. Eu mesmo – ainda menino – esmaguei uva com os pés para a produção de vinho. As primeiras hortaliças cultivadas eram os “radicci” (espécie de chicória), repolhos e feijão branco; posteriormente, investiram também em plantar ervilhas, couve-flor e outras.

 

            Com a caça, conseguiam carne de aves silvestres e de macacos, que faziam parte das refeições diárias dos imigrantes, juntamente com frutas silvestres, entre elas o pinhão assado ou cozido na água.

 

            Alguns imigrantes com tino comercial, e que também eram tropeiros, adquiriam as colheitas de cereais e outros produtos dos demais, transportando-os dentro de bruacas de couro cru – carregadas por animais muares – até São Sebastião do Caí, onde eram vendidos a comerciantes alemães. Com este negócio, obtinham boa margem de lucro e um bom ágio, uma vez que o pagamento aos colonos vendedores acontecia somente após o retorno da viagem. Geralmente, o acerto era feito com mercadorias adquiridas com comerciantes alemães, antecipadamente encomendadas pelos colonos. Assim, eles voltavam com as bruacas cheias e tendo lucro dobrado. Alguns anos após, os tropeiros converteram-se em fortes comerciantes, estabelecidos com lojas de grande sortimento de mercadorias e utilidades.

 

            Quando os colonos conseguiam juntar algum dinheiro – o que não era comum – eles o emprestavam aos tropeiros, ou aos pequenos comerciantes, sem juros, pois não havia inflação naquela época. Houve casos em que alguns comerciantes, que possuíam cofres, cobravam uma pequena taxa para guardar o dinheiro.

 

 

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Publicado por Francisco Albano Boscatto em 17/02/2008 às 16h53

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